Andando com demônios

06h:00 (pm). São Paulo.
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Estive andando com os demônios.
Já esteve com eles?
Pude ouvi-los e conversar com eles diante dos meus relapsos de lucidez.
Escutava suas vozes, mas não havia fala. No idioma o qual só eu poderia entender, o enunciado era de uma sentença remota.
Já havia horas andado nas ruas escuras da noite fria, escutando barulhos que não combinavam com o número dos meus passos dados entre as árvores que deixavam folhas a cair no soprar de um vento gelado com som de medo.
Com o andar ora não mais ordenados, tropeçava em meus erros e delirava em minhas utopias, estabelecendo o caos. Colocando as mãos em minha cabeça, indagava como tantas vozes conversavam dentro de mim em um ambiente tão calmo que nem o timbre do luar se podia apreciar.
Sem aguentar toda essa zoada, estressado com a discrepância entre meu mundo e a realidade, quis trazer o ruído da mente ao silêncio invejado das árvores sossegadas.
Gritei:
Quem são vocês? E porque estão aqui?
Somos você. A pior parte de você. - Pude escutar.
Percebia que os demônios assentavam em minha consciência. Na mesma hora, estava a perder a lucidez de quem eu era.
Ao escutar a resposta pude voltar a prisão da minha existência, assustado como se tivesse caído em uma armadilha de um filme de terror, me pego procurando as horas sem saber aonde estou:
São 8h:00(pm), estou em São Paulo.
Isso me fazia recuperar a percepção.
Ouvi a faísca do isqueiro abrasar o meu cigarro, o barulho do fogo sereno acalmando minha alma, a fumaça obscura que saia da minha boca ascendendo aos céus na calada do brilho do luar e a perda da consciência constante para que realizassem a que vieram.
As palavras me tentavam a convencer de que aquilo real ou não, eu deveria fazer. Em meios a essas alucinações, estive em meu mais profundo estado de devaneio.
Consegui ver a mim em um espelho com ações cruéis contra minha pessoa, sentindo os demônios a aproximar de mim e me matar por dentro.
Escravo de minha própria ilusão, estava preso a me ver morrer.
Do espelho saia o demônio que purgava minha alma, absorvendo minha índole que me destruía nos atos de insistência em nunca desistir, na fidelidade de achar que é sempre pra sempre, da sinceridade que interrogavam mas ninguém queria saber e das saudades que nunca paravam de doer.
Em nenhum momento pensei que clamores ao além pudessem ser escutados. Receio que este pedido tenha sido eu que o fiz. Escrevi enquanto me livrava de pensamentos ruins que perturbavam, clamando por transformação. Precisava dizimar algo da minha natureza que não era capaz de faze-lo e nem mesmo concordava em fazer.
Talvez as vozes desse dia tenham sido dos anjos, tentando me convencer a ser piedoso...
Um vulto passou sobre mim, eu perdi o tempo. Me encontro em casa acordando nas trevas do silêncio absoluto no meio da sala vazia. Sem saber o que tinha acontecido sentia minhas mãos trêmulas acompanhadas de olhares assustados procurando por alguém ou alguma coisa. olho o relógio:
00:00h. acho que estou em São Paulo.
Perguntava-me
O que aconteceu?
O que eu fiz?
Ainda escutava sussurros. Não podia mais confiar em que escutava, nem no que enxergava, nem mesmo em mim. Não sabia o que era real. Não sabia o que me tornei.
Tentei acreditar que todo esse barulho vinha de dentro, pois sou daqueles.. que se apega ao ceticismo, talvez sendo um profano ingênuo, que nem tenho certeza que posso ter recebido visitas... para realizar um trabalho sujo que não conseguiria faze-lo sozinho.
Nunca tinha recebido visitas assim antes. E espero, não ter que receber mais nenhuma. ...
Horário: 03:00(am). Estou em São Paulo.