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O barco que afundei


Estava em um barco, afundando no meio do nada. E tinha uma linda música tocando.

Pude ver o momento exato em que o barco furou.

Pois, eu mesmo o fiz.

Diante daqueles últimos minutos... fiz momentos que durariam pra sempre.

Assim, pude contemplar a relatividade do tempo.

Tempo que passou rápido, mas foi suficiente para capturar várias fotografias lindas em minha mente que recordarei para sempre.

Me lembro da música também, e da garrafa de vinho que acompanhava aquela noite.

Tinha consciência aonde o barco iria afundar. E até onde teria que nadar. Sabia que estava cercado pelas margens dos oceanos que ditam territórios. Cada um deles, com suas regras e seus ideais que sufocavam e conflitavam com minha moral. Me perdi dentro do mar...

O que me levou a fazer o que eu fiz.

No balançar das ondas pensava em te levar longe... mas não existia lugar sem abdicações. Todo lugar sufocava pela exploração.

Naquele momento, foi quando decidi tomar esta atitude sociopata de navegar com o barco para o meio do nada, nas terras de ninguém, sem regras e sem exploração.

Eu, você, a lua, o oceano e a garrafa de vinho. E as músicas que compôs a trilha sonora daquele dia.

Quando percebi que ninguém vive sem ser explorado, fiquei conflitante, foi quando tive que furar o barco.

Deixei aquela garrafa com flores para boiar com você, representada ali o meu carinho.

Como toda cabeça pequena e inexperiente, nadei para o lugar de onde vim... pois achava que era o porto mais seguro. O único que conhecia. Não me arrisquei a tentar encontrar um outro.

Voltei para mesma terra para descobrir que os ideais não mudaram, mas que talvez fosse capaz de viver em outros lugares tendo ideais de onde eu vim.

Sabia que daquele barco, sairia sozinho, te deixaria devastada com nossa garrafa. mas não pude evitar, tinha uma corrente que me prendia e eu tinha que quebra-la.

No final, voltaria para minha terra... Para que pudesse me despedir de maneira adequada. E então, mais corajoso, peguei um novo barco... e embarquei sozinho procurando uma terra que me oferecesse um porto seguro. Um lugar que meus velhos ideais não seriam mais minhas correntes que me prendem ao que me faz voltar a minha terra natal.

Este lugar talvez nunca exista... mas já estou no meio do oceano novamente, enfrentando o mar com essas tempestades da mente e essas ondas que querem me afundar.

Estarei firme até onde puder. Espero lembrar e ser lembrado, nos territórios por onde passei. Pois guardo todos eles com enorme carinho. E desejo visitar todos logo em breve.

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© 2016 Para manter o silêncio da mente, preciso do barulho de fora.

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